O encerro do Sr. Domingos do Pinto
Ora bem meus amigos, o sr. Domingos do Pinto era conhecido na "Corga" pelo "Cantoneiro".
Precedia de uma família da aldeia que era muito respeitada dado aos seus haveres, já que possuiam muitos terrenos e muito gado.
Ora o "Cantoneiro" casou com a Florinda, e entre trancas e barrancas conseguiram fazer um casal de propriedades de criar inveja a qualquer lavrador ,mas havia uns pequenos problemas: a Florinda coitada gostava do copito e o "Cantoneiro" era um pouco nescio, e tinha um problema crónico de "sonitis aguda".
Isto quer dizer que o indivíduo dormia onde quer que estivesse; fosse à mesa, na missa, de pé encostado a uma parede, e até na cama.
Como já vos tinha comentado antes, o homem ao ter tanta labuta é evidente que tinha sempre em casa um ou dois criados.
Houve então uma época que por desgraça do "Cantoneiro", o maramanjo do Zé da Lucia foi uma das peças da criadagem do indivíduo.
Ora um dia tocou de ir arrancar batatas para os do Branco. E lá botou o chefe "Cantoneiro" mais o criado dar o dia, para que quando fosse o arranque deste os do Branco lhes fossem dar uma mão também.
A manhã correu bem, o rancho era bom e aquilo ia de vento em popa. As batatas cobriam a terra e as sacas eram umas atrás das outras.
Aproximando-se a hora do almoço (jantar como lhe chamamos em Barroso) o "Cantoneiro " lembrou-se que tinha uma vaca parida e quis mandar o da Lúcia a dar de comer ao animal. Mas como sabia do que a casa gastava resolveu ir ele que assim seria mais rápido, porque o outro se calhasse de ir já não aparecia até à hora da merenda.
Entao diz ele para o "Ti João do Branco":
"Hó João, s'num t'importa inquanto as mulheres trazem o jantar, eu ia ali n'umnstante botar um fatxuco de feno a um'a baca que teinho parida."
"Bai lé depressa c'as mulheres ja'ibem c'o jantar" ,disse o velhote.
E lá vai o "cantoneiro" rua abaixo, entra no palheiro, começa a ripar o feno e a fazer o molho.
Entretanto, enquanto os das batatas estavam a descansar e à espera do almoço o macaco do da Lúcia bota rua abaixo e chegado ao palheiro muito sorrateiramente fecha a porta trancando-a com o chavelho .
Hora o "Cantoneiro ", ao botar a mão à porta para sair esta não abriu, como é evidente, e diz:
"Quereis ber o caralho???, a puta da porta num abre! Só me faltaba esta!!!"
E num acto desesperado começa a chamar pela vizinhança:
"Hou Ti João do Branco; hou Laurintina; hou João do Branco; houuu Laurintina."
E o da Lúcia vai muito certinho, tira o chavelho à porta e manda-se p'rá terra comer com o resto do "rancho".
É claro que toda a gente estava a ajudar os do Branco e não o ouviam.
Como também era hora de" lerpar" estavam a comer todos descansados à sombra dos carvalhos e o único que realmente se lembrava do "cantoneiro" era o criado que ia degustando a comida ao mesmo tempo que se ria para dentro .
"Hooouuuu João do Branco ;hoooouuuuu Laurintina; hoooooouuuuu do Pinto ",
"Aiiii jajus q'estou a arder in pressa , aiiiii a minha desgracia!!"
Gritava o "Cantoneiro " desesperado.
A cadela do "Cantoneiro " ao ouvi-lo gritar, vai pelo pátio do Pinto acima e chegada à porta do palheiro bota as patas da frente a esta e a dita cuja abriu-se .
Diz o "Cantoneiro" muito admirado:
" À filhas da puta, já me fodesteis; perdi aqui um'ahora e a puta da porta estàbàberta".
Enquanto isso os outros já tinham comido e retomado o trabalho. Dando pela falta do "Cantoneiro" perguntavam:
"Q'estará a fazer o tolo do Cantoneiro que nunca mais bem????"
Respondia o da Lúcia com um sorriso matreiro:
"Debe d'estar a dormir no palheiro q'ué o que sabe fazer".
Dali a pouco tempo, lá apareceu o sr. Domingos do Pinto (Cantoneiro) sem dizer uma palavra nem explicar nada aos outros para não passar vergonhas.
E lá pegou na enxada e cavou a tarde inteira com a barriga a dar horas.
Aqui fica mais uma história do Zé da Lucia, que na minha opinião de grande amigo seu, é o diabo em figura de gente.
Boas noutes
2 Comentários:
Esta é das melhores de todos os tempo da "Corga". sem dúvida...
O zé da lucia e um ponto de referencia de parafita,e do melhor que temos..
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